domingo, 26 de abril de 2009

ao meu fiel e alegre DANDAN.

Pois é, e a inevitável visita da tristeza se fez presente num telefonema . Hoje, eu e meu irmão chegamos a conclusão de que precisamos sacrificar nosso cão.


Dandan tem 14 anos e 4 meses de vida, e um problema sério e muito doloroso na coluna. Estávamos tratando com medicamentos e acupuntura, mas ele não está aguentando mais, e não conseguimos mais vê-lo sofrer, afinal também estamos sofrendo. E pensar que ele corria, pulava, subia, descia, cavava, mas que merda de vida!
Ele vai morrer amanhã.
Tudo junto, administrar a dor da perda e a dor da decisão da perda, é algo penoso e de muita responsabilidade, porque jamais saberemos se, com o tratamento, ele voltaria a ter boas condições de vida. Sei que é possível, mas não sei se no caso dele o é.

Quem precisa de um cachorro? pra sofrer mais? como se já não bastasse todas as dores que já sentimos até hoje, todas as perdas que já choramos até hoje; e, pior, as que ainda virão!

Nos acumulamos de tanta vida ao nosso redor e, depois, temos que fazer das tripas coração, para tentar dar conta da dor que tanta vida, infalivelmente, acarreta.

Li, há pouco tempo atrás, um livro narrado pela morte "A Menina que roubava livros", e ali, ela não se mostrava refratária à dor, pelo contrário, ela parecia sentir todo o peso de sua presença na vida dos que ficavam, mas sabia que alguém, algum dia, haveria de fazer seu sujo, insano e eterno trabalho. Levar daqui, da nossa companhia, entes queridos, e, daqui a pouco, levar a nós mesmos, dá o que falar, mas hoje estou tão arrasada com a atitude de decidir que é melhor abreviar a dor do dandan e saber que nunca mais o verei, que não tenho condições de ir além do lamentável e lancinante do fato.
Várias coisas passam pela minha cabeça, várias situações em que ele estava presente, me aparecem num flash: passeios, cochilos, carinhos, lambidas, corridas, e tb várias formas de lidar com o buraco que ficará. Não sei como meu irmão está, imagino que desolado, mas, além disso, estou pensando em como é confortável a vida de pessoas que, talvez para se protegerem justamente de situações como esta, não cultivam nem uma planta. Vivem sem a dor, a mortificante dor de chorar a perda de alguém, mas também vivem sem a experiência de anos e anos de convivência, de risos, de abraços, de porradaria, de mau-humor, de cuidado, de resfriado, de praia, de porre, de tombo, enfim, de uma vida sendo contada não só por você, mas por outras pessoas a sua volta, com outras formas de encarar a vida, os tombos, os porres, os abraços.

Talvez, escrevendo aqui, seja uma maneira de dizer ao dandan como o amo, embora já o tenha dito inúmeras vezes.
Uma homenagem ao parceiro de tantos momentos bacanas juntos. Nunca vou me esquecer da fissura que ele ficava quando via o mar, hehe, ninguém conseguia segura-lo. E quando ele espantou dois suspeitos que entraram no condomínio que a minha mãe morava? Nossa, ali ele se tornou o herói e não tinha um vizinho que não viesse passar a mão nele com gratidão, não por ele ser bravo, longe disso, mas por ser brincalhão, estabanado e, muito provavelmente, ter confundido um dos suspeitos com o meu pai - pelo menos, era o que a minha mãe dizia.

Bom, é isso, sem grandes elocubrações, porque tô frágil, tô fraca, quase sem disposição para pensar, quero deixar aqui o meu protesto contra a maldita morte, ou seja lá o que isso for! e quero deixar registrada a minha homenagem/saudade ao dandan, que foi o único cachorro que tive, que adorava ir ao veterinário. O Mário mesmo dizia, "cara, o dandan é tão feliz, tão brincalhão que é o único cachorro que gosta de vir me ver!"
Amanhã eles vão se ver pela última vez.

Dandan, eu te amo muito, vc sempre foi muito doce, estabanado, ciumento, bobão e obediente. Adorei ter te conhecido e convivido com você, por isso, se houver a mais remota possibilidade, saiba que, por mim, a gente se encontra na próxima de novo.
AP

domingo, 12 de abril de 2009

CO-MEMORAR


Um blog do qual participam psicanalistas não poderia deixar passar em branco o dia da Páscoa. Surpresa? Você também acha que psicanalista é ateu? Não tem religião? Bem, depende do que você entende por religião. Do latim “religare”, religião significa “ligar de novo”: ligar de novo o que uma vez esteve ligado e foi desligado/esquecido; ligar o que jamais esteve ligado, permanecendo nas sombras sem, entretanto, deixar de nos assombrar; ligar o que jamais pensamos que poderíamos pensar...

Nesse sentido, religião é colocar em atividade a possibilidade do encontro, do acontecimento, sempre de forma positiva, ainda que isso nos custe um certo esforço. E é aí que entram os psicanalistas: pessoas que fizeram a experiência de se deixar atravessar por novas formas de ligação e que, por isso, são capazes de acompanhar o trabalho das chamadas pulsões de vida – aquelas cuja função é, justamente, atar-nos à vida.

É por aí que sou religiosa: o sentido da Páscoa não está somente em comer chocolate - o que não impede que isso aconteça, também! Quem disse que o coelho da Páscoa não pode ser fundamental? As ligações, a vida, pode despontar, renascer pelos caminhos mais simples e/ou mais absurdos...

Co-memorar a Páscoa é “lembrar junto”: de que somos portadores da capacidade de renovação; de que somos capazes de mudanças internas e externas, de que podemos “trocar de pele”, de que não se nasce apenas uma vez. De que podemos esquecer de querer esquecer de tudo, até do fato de que somos portadores da vida. Disso também é feita a função do psicanalista.

A Psicanálise surge quando todos e tudo procuravam “esquecer” que a vida é maior do que as moralidades, as religiões com seus absurdos, o conservadorismo barato, a violência injustificada – enfim, tudo o que vai de encontro ao movimento incessante da vida, em suas mais variadas formas de manifestação. A Psicanálise nasceu, portanto, religiosa: se propondo a ligar o que ficava “abafado”, o que era mal-dito. Após 109 anos de sua criação, como estaria a Psicanálise, aos olhos do mundo? Renovando-se... e continuando a trabalhar para que nossa capacidade de co-memorar seja ampliada, para que usemos cada vez menos (apenas quando for absolutamente necessário!), nossa capacidade de esquecimento, esta sim, sempre alerta, sempre aí!

Co-memorar a Páscoa é uma tentativa (ingênua, talvez) da nossa civilização de combater esse tal do esquecimento, essa mania de achar que o ser humano pode evoluir sem sentir, sem olhar para o que lhe traz incômodos, para o que lhe faz sofrer... Mas não insistimos em esquecer, em não co-memorar porque somos covardes, porque temos medos. A covardia e o medo geralmente entram em segundo lugar; já são o efeito de um outro velho e jamais deteriorado hábito, que somente os humanos possuem: o de pensar-se na obrigação de “ser perfeito”.

Creio que se “Deus criou o homem e a mulher”, foi para provar que a força da vida é mais forte do que nossas tentativas de nos tornarmos perfeitos. Ao insistirmos na perfeição, quantas vezes esquecemos de viver? E com tal esquecimento, toda a nossa capacidade de renovação, vai por água abaixo... com a gente junto, é claro!

Este pequeno texto tem por objetivo contribuir (ingenuamente, eu sei! O esquecer é automático, lembra-se?) para nos lembrarmos de que não dá para ter uma vida plena (e isso não significa uma vida totalmente feliz!), se não acionarmos o botão da renovação, de vez em quando, pelo menos... E, falando sério: existe algo mais absurdo, mais violento, mais cruel do que essa exigência de sermos perfeitos? Portanto, co-memore! Se ligue!

E, sobretudo, procure não esquecer: mais importante do que sermos perfeitos, é nossa capacidade de nos responsabilizarmos pela vida que queremos ter. Sem isso a gente nem começa a viver...

Bjs

EP

O QUE É UMA MÃE? PARTE 2

Bom, em função do tema que decidi vasculhar em minha monografia, que trata do imbróglio: desejo de engravidar x desejo de maternidade, talvez me estenda um pouco mais do que gostaria, mas vou tentar não me repetir.

Infelizmente, essa pendenga (gravidez x maternidade), ainda hoje - século XXI - é motivo de assombros, mas não de questionamentos; talvez poucos, mas não em número suficiente a ponto de este tipo de situação relatada, ainda nos deixar indignados e dizer: Pra que essa moça resolveu ser mãe? será que ela não queria "apenas" engravidar e curtir um corpo diferente ou aproveitar uma nova postura no mundo? deixar de fumar, quem sabe?

Seja como for, a proposta de minha monografia é questionar mais, aumentar o volume de questões ainda camufladas, veladas e reverberar uma pergunta que um pediatra (não sei se posso colocar o nome dele...será que serei processada? - se eu puder, boto o nome dele depois) coloca em um de seus livros: "Todos os adultos têm condições de se tornar pais?".

Formulações como essa andam salpicando aqui e ali pelos pontos do globo, mas ainda é muito pouco para tentar responder à pergunta: O que é uma mãe? Será que antes, não devemos nos perguntar: Que tipo de relação é essa entre uma mulher e um bebê?

Ah, mas aí vem a igreja, vem a própria sociedade (coitada) e sei lá mais quem e abafam a pergunta, provavelmente aos berros, com o seguinte comentário: Mas que pergunta é essa? Essa mulher é a mãe do bebê? Então, é claro que é uma relação de amor!!! Ok, adoraria acreditar nisso, mas infelizmente não sou capaz; não depois de “encarar” alguns teóricos da psicologia, da psicanálise, como Freud, Winnicott, Lacan, Nasio, e muitos outros,... e talvez, estejamos precisando, no momento, como participantes de um mesmo planeta, vizinhos, chefes, empregados, enfim, pessoas que, através de suas histórias, estão no mundo; nos debruçar sobre a “natureza” do laço que une uma mãe e seu filho.

Incrível como essas perguntas se apresentam de uma forma tão simples, né? beiram a ingenuidade. Ingenuidade, porque somos levados, de alguma forma, a acreditar que todos somos capazes de nos reproduzir. Somos mesmo? Todos? Tenho minhas dúvidas, e acho que o que falta há humanidade, de um modo geral, é, humildemente, entender que não.
Mais chocante que as perguntas e as tentativas em respondê-las, é a forma como nós ainda lidamos com nossas mazelas nessa seara. Será que não seria mais "humano" aquiescermos a esse fato do que nos depararmos com situações horripilantes que se tornam manchetes de jornal ou mesmo cenas "banais" que fazem parte do dia a dia de qq mortal? É só sermos minimamente corajosos e olharmos para não muito longe e passarmos a nos questionar, porque nós, a humanidade (burra, tadinha, desamparada e vítima) ainda não entendeu, e talvez nem entenda nunca, que essa função (a função materna) é atravessada por histórias precedentes (ou a falta delas), e que envolve muito mais que a "maldita natureza maternal" ou "instinto maternal" - ainda cultuada e exigida, que coloca a mulher, desde qdo nasce, como que portadora de um gene ou de uma calibragem em seu DNA capaz de dar conta, no futuro, de algo que, via sociedade, se faz imperativo...se tornar mãe!

Tal qual a pergunta: "O que quer uma mulher?", "O que é uma mãe?", nos instiga, mas, diferentemente do que se pensa ainda hoje, ou seja, que a pergunta de uma é a resposta da outra, a constituição do ser humano, complexa que é, não nos permite tamanha falácia e tão pueril engano.

Pena a humanidade ainda não ter conseguido se aproximar da realidade, mesmo diante de infelizes fatos corriqueiros como nossas manchetes de jornal e idas à farmácia, ao supermercado, ao clube, ao parquinho, .....
(para maiores informações, vide minha monografia, já já disponível no boca).

AP
12.4.09

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O QUE É UMA MÃE?

Vários textos (sobretudo os de Psicanálise) já se propuseram a discorrer sobre as possíveis respostas à pergunta acima – uma pergunta que, creio, só pode ser respondida no particular de cada um, e com inúmeras ressalvas, pontos de exclamação, contradições, indefinições. De minha parte, acho que estamos diante de uma pergunta que não pode ser respondida com explicações, regras, definições exatas... Não há resposta definitiva para essa pergunta. Ela não se deixa responder... E, por isso mesmo, ela não cessa de ser feita. Quem é mãe, e quem tem mãe (quem não tem?!), sabe que mãe é uma “coisa” que, dificilmente, deixa a gente em paz... A simples menção da palavra mãe, falada ou ouvida, desperta os mais intensos sentimentos, bons ou ruins, em sua maioria jamais simples; pelo contrário, muito contraditórios!

Na fila do caixa de uma drogaria, eu esperava minha vez de pagar. À minha frente, uma mulher jovem ia dando para o rapaz do caixa os produtos que queria levar. Ao lado dela, um homem, também jovem, e um menino de uns 4 anos. A principio, não consegui identificar que ali estava uma família. Não era visível nenhum laço afetuoso entre aquelas pessoas. Foi então que o menino, magrinho, meio curvado, me chamou a atenção pela alegria com que dizia: “Pai, posso pegar um MM?”. O tal chocolate estava na prateleira, bem à altura do pequenino que, para meu espanto, não estendera a mão para pegar o MM e, só depois, então, fazer o pedido. “Criança educada!”, pensei, não sem uma certa estranheza que ainda não podia explicar para mim mesma. O pai consente, o menino pega o MM. A mãe tira o MM das mãos do menino (um tanto bruscamente, sem palavras, quero dizer) para passar o produto no caixa e não devolve-lo ao menino, que começa a demonstrar uma reação de quase pânico; com esforço, ainda não chorando, ele diz: “Mãe, me dá meu MM!”.

Resposta da Mãe: “Não. Você vai tomar vacina daqui a pouco e não pode comer chocolate (!). E vai almoçar, também!” O garoto cai em prantos, muito, muito infeliz. O mundo tinha desabado para ele... A “resposta” da mãe: “Então, se é assim, eu vou deixar o MM aqui e não vou levar!”. E pede ao caixa para tirar o chocolate da conta.

O pai (aquele mesmo que havia “dado” o MM: “Você fica de marra, é isso que dá!”

O menino pára de chorar (“engole o choro”). Noto que a curvatura de suas costas aumenta um pouco. Os três saem da farmácia. De costas, percebo que tanto o pai quanto o filho tem o mesmo caminhar: curvados. O menino parara de chorar, e saira sem o MM.

Não houve espaço para negociações, trocas, palavras... amorosidade. Só o império das regras (do tipo leite com manga faz mal, não se pode lavar a cabeça menstruada, quem brinca com fogo faz xixi na cama, quem vai tomar vacina não pode comer chocolate... etc, etc).

Nós podemos não ter uma resposta definitiva para a pergunta que dá titulo a este pequeno relato. Entretanto, que não possamos respondê-la, isso não nos impede que essa mesma pergunta ressoe e se deixe responder a cada vez, em cada situação que a vida nos apresenta, a partir de referências concretas à realidade e, sobretudo, com uma boa dose de amor.

Ao falar sobre a relação entre uma mãe e seu filho, Freud chegou a dizer que “uma mãe ensina seu filho a amar”. Talvez esta seja a resposta mais simples – e a melhor – para a pergunta que não quer calar... Na impossibilidade de amor, lembra Freud em outro texto, adoecemos... a nós mesmos e a nossos filhos.

EP

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Nome do Pai ou nome da gente?


Com a “inauguração” do blog fiquei pensando como assinar... Só o primeiro nome, nome e sobrenome, só as iniciais? O nome todo deixa a gente muito exposta? Se colocar o nome todo, dá a sensação de invasão?
Paranóias à parte, creio que nome e sobrenome são coisas muito fortes, afinal carregamos no sobrenome toda a história de nossa família, uma bagagem difícil de deixar pela estrada... Se pensarmos que o que nos dá nome é anterior a nossa chegada, que foi pensado antes de nascermos, que já viemos ao mundo devidamente “nomeados”, fica pior ainda, a carga de responsabilidade aumenta muito!
Fiquei pensando porque eu tinha essa sensação de “carregar” um sobrenome e me lembrei que em minha casa todos tínhamos nomes incomuns, o meu é o mais “normalzinho” de todos. Meu pai fazia questão de nos chamar pelos nossos nomes próprios, pois detestava apelidos, não me lembro de ser chamada por nenhum tipo de apelido carinhoso ou qualquer coisa minimamente brincalhona por parte dele...
O meu sobrenome além de ser o nome do meu pai, carrega todos os ensinamentos, os conceitos de ética, moral e honestidade que ele me passou e eu achava que era isso o que me definia... O meu nome junto com o meu sobrenome tem uma conotação muito mais firme, séria, reta, coisas que ele me ensinou, que ficaram marcadas em mim para sempre e consequentemente eu tenho de "zelar" por ele... Não que eu ache que isso foi ruim, ainda mais se pensarmos nesses nossos tempos atuais de absoluta falta do “Nome do Pai”, falta de limites, interdições... Pelo contrário, acho que ele estava absolutamente certo !!!
Quando estava para me casar, fiquei muito angustiada, pois teria de deixar de usar o nome do meu pai (na minha cabeça abriria mão desse “nome” em todos os sentidos, o simbólico, o imaginário e o “concreto”, não o real), então descobri que não era mais obrigatória a mudança do nome com o “advento” do casamento... Que alivio !!!
UFA, ainda bem, como poderia deixar de ser eu, com meu sobrenome de sempre, minha assinatura de sempre, minha identidade de sempre? Tinha a sensação de que ao trocar meu sobrenome, estaria trocando de pessoa, não seria mais eu, mas sim uma outra, nova, nascida ali... Como assim? E a revolução feminina? E o meu direito de querer continuar a ser a mesma pessoa? Porque o casamento me obrigava a virar outra pessoa? Não foi sem caras feias por parte da família do meu marido (ex, agora), que mantive meu nome, muito feliz e achando que tinha feito valer todas as conquistas da minha geração, absolutamente feminista !!!
Enfim, depois de algumas conversas muito produtivas e algumas histórias bem interessantes, percebi que na verdade o que me define é quem eu realmente me tornei, independente de nome e sobrenome, o que importa é a bagagem que carrego, as escolhas que fiz, o percurso de uma vida e do “alto” (alto???) dos meus 53 anos até posso me dar ao luxo de fazer o que bem quiser com meu nome, pois, finalmente ele é meu, eu tomei posse dele!!!
Bjs
Gisele

Você também acha que o mundo está louco?

Muito comum hoje em dia ouvirmos pessoas se queixando de que “o mundo está louco”... Invariavelmente, são queixas feitas quase que à queima roupa, dirigidas a ouvintes virtuais, como se fosse imperioso dizer, não importando muito se a “pessoa” ou as “pessoas” ali presentes darão ou não seus ouvidos a uma fala como essa.
Outro dia, isso aconteceu novamente no balcão de uma famosa delicatessen, situada no Leblon. Testemunha dessa re-ediçao, decidi pensar um pouco sobre o assunto: se o mundo está louco, é imprescindível que isso seja dito – é o que parece, dada a repetição da mesma cena em roteiros diferentes. O que me intriga é a repetição da forma como essa frase é dita – à queima roupa, como já disse.
Difícil não lembrar da fábula onde uma criança grita “o Rei está nu!”, em meio a uma multidão que se pensa obrigada a cumprir o protocolo, isto é, a reverenciar V.Alteza.
Aos poucos, segundo narra a fábula, uma e outra voz vai se somando à da criança e em pouco tempo, todos, menos o Rei, sustentam a encenação de que “tudo vai bem..”
Na vida real, no dia a dia, muitas pessoas-crianças parecem não poder evitar dizer “o mundo está louco!” ... Mas, o que também parece vigorar, é o receio de que isso seja realmente confirmado... e que a loucura se torne generalizada ao ser desvelada.
E assim, enquanto ainda não for possível encontrar verdadeiros ouvintes, vozes e mais vozes ecoam no ar, tal como pequenas mensagens na garrafa, boiando num universo indistinto, em busca de um porto onde à “loucura do mundo” possa ser dado um outro destino. Mas para que isso aconteça, primeiro ela tem que ser reconhecida como tal, por pelo menos dois... Por que dois já fazem um encontro. E a criança pode, enfim, não estar mais só. E aí não importa mais que o mundo tenha sempre sido mesmo meio (ou muito?) louco. Por que no encontro, a vida se separa do mundo... E se torna uma vida possível.

EP

domingo, 5 de abril de 2009

Vamos começar os trabalhos...

Finalmente o blog saiu !
No princípio éramos um grupo de estudos, comum, normal como todo grupo de estudos é. Costumávamos ler algum texto, debater sobre ele e ponto final. Mas, aos poucos, o grupo foi mudando, saíram algumas pessoas, entraram outras, mudamos de local e finalmente chegamos ao grupo de hoje, que se reúne (quase sempre) às 6as. feiras.
O perfil do grupo mudou bastante... Hoje estudamos, continuamos a ler textos que achamos interessantes, mas também falamos de filmes, de nossos relacionamentos, de nosso trabalho profissional, de assuntos que permeiam nosso dia-a-dia, que nos causam alegria, espanto ou mal-estar, ou às vezes, notícias, crônicas ou livros que lemos e achamos interessantes...
Enfim, o Boca Mal Dita surgiu do desejo de compartilhar o que temos falado em nosso grupo e é a isso que se propõe, ser um lugar onde possamos falar de assuntos variados que nos movem, colocarmos em palavras nossas idéias, ideais e opiniões que acreditamos que possam interessar a outras pessoas...
Somos um grupo eclético, de várias idades, pensamentos e tendências diferentes, temos em comum o amor à psicanálise, mas o Boca Mal Dita não se propõe a ser um fórum de debates psicanalíticos e muito menos um lugar para se falar "psicanalês".
O Boca Mal Dita está no ar, comentários, opiniões e debates serão bem-vindos !

Um abraço a todos,


Gisele