sábado, 23 de maio de 2009

Hermafroditismo...

Sempre achei que o hermafroditismo não existia ... Nunca conheci ninguém que fosse hermafrodita, nem nunca soube de alguém próximo, nunca ninguém me contou que alguém da família ou conhecido era hermafrodita, portanto, achava que era coisa de ficção ou uma desculpa familiar pra justificar algum comportamento diferente em suas crianças e adolescentes.
Estudei um pouco de genética na escola e ninguém falava disso (claro, eram outros tempos, e falar disso era totalmente impensável...) e mais recentemente na faculdade, quando estudei um pouco mais de genética, inclusive com vários trabalhos sobre síndromes e possíveis problemas genéticos, também nada foi falado.
Durante esta semana, acabei vendo um filme e um seriado que tratavam desse assunto e fiquei super interessada... Dei uma pesquisada básica no “meu amigo Google” e descobri que existe 1 indivíduo hermafrodita para cada 25 mil nascidos!!! É um número consideravelmente alto... Não se tem certeza das causas, mas se sabe que é um problema causado por anomalias cromossômicas, variam de indivíduo para indivíduo e existem vários tipos de hermafroditismo, com tendências tanto para o lado masculino quanto para o lado feminino. O mais intrigante é que quando a criança nasce, não há como se determinar de que sexo ela é, pois em alguns casos, além de existirem os dois sexos externos, os órgãos internos são parte masculinos e parte femininos e um exame genético também não esclarece o sexo do bebê.
Enfim, o bebê nasce e surge a dúvida cruel, mortal, como criar esse bebê? Como uma menina ou como um menino? Fico imaginando a angústia desses pais que precisam tomar uma decisão que afetará profundamente o futuro de seu filho(a). Já é difícil lidar com todas as questões emocionais que envolvem a decisão de se ter um filho, que passam pela gravidez, pelo parto, pelo nascimento, pelo futuro do bebê, e ainda se defrontar com essa questão completamente nova, pouco falada/divulgada, muito complexa, que mexe com todos os conceitos minimamente resolvidos sobre as questões sexuais, sobre papéis femininos e masculinos, sobre as opções sexuais futuras...
A solução, se é que se pode chamar isso de “solução”, é cirúrgica, onde se adequará a parte genital da criança ao gênero escolhido pelos pais... O que deve ser uma decisão dificílima, pois além da parte psicológica, social, moral ou religiosa, a parte fisiológica exige uma série de intervenções cirúrgicas, internações em hospitais, cicatrizes físicas e emocionais sem fim...
Outra “solução” possível é não se fazer nada, esperar a criança chegar à puberdade e ela própria escolher o sexo que quer ter, o que fatalmente ocasionará uma criança meio “híbrida” ou andrógina, até que chegue a hora da escolha e se tomem as medidas necessárias com relação à parte física, com administração de hormônios e a adequação do órgão ao sexo escolhido...
Na realidade quaisquer que sejam as soluções, implicam em muito sofrimento para todos, até porquê se o sexo é determinado pelo biológico, não tem saída, e se o sexo é determinado pelo psicológico, também não tem saída!!!
Então, o que fazer? Determinar o sexo do bebê no nascimento, intervir fisicamente e criar de acordo com essa “escolha” ou deixar o adolescente “escolher” por si próprio e depois tomar as medidas necessárias à adequação?
Seria fácil se a sexualidade do sujeito dependesse exclusivamente de fatores puramente biológicos ou se fosse determinada só pela forma “manualizada” de se criar filhos: meninos são assim (brincam de bola) e meninas são assado (brincam de bonecas). O problema está em que pra além do biológico, a sexualidade e a escolha de um objeto amoroso, depende do quanto de investimento afetivo se faz no bebê, na relação com a mãe, na relação entre os pais, na relação dos pais com os filhos, nas identificações que a própria criança produz, na passagem pelo Édipo, pelo narcisismo, etc...
Ficam aí as perguntas, quem se habilita ???

Bjs
Gisele




segunda-feira, 11 de maio de 2009

Dia das mães...

Sei que é uma data que surgiu da necessidade de se incrementar o comércio, como o dia dos pais, das crianças, dos namorados, agora tem até o dia da avó, da sogra, do amigo... Mas, como esse dia se comemora há muito mais tempo, acabou ficando marcado no imaginário de todos nós e queiramos ou não, “entramos nele” de algum jeito, bem ou mal, triste ou feliz, sozinhos ou com mães e filhos.
Fui com meus filhos almoçar na casa da minha irmã, que após anos sozinha, agora tem sua filha e netos morando com ela, o que foi uma bela oportunidade de reunir o resto da família, que eu não via há tempos, embora moremos na mesma cidade, sou a irmã "desgarrada". E meus irmãos moram todos no mesmo lugar, uma casa em baixo, uma casa em cima e uma casa atrás, o que gera conflitos enormes, pois são um “condomínio” sem regras e limites claros, o que me enlouquece só de imaginar em compartilhar esse espaço comum com todos eles e mais sobrinhos e agregados.

Somos uma família grande, éramos 5 irmãos, em “escadinha” como era comum nas famílias de antigamente, com avós morando junto e a casa sempre cheia de amigos e parentes, até porque somos de SP e a família vinha sempre se hospedar aqui no Rio. Nossa ascendência é italiana e falávamos todos ao mesmo tempo, muito alto, mexendo muito com as mãos e de longe, parecia que estávamos sempre brigando... mas não era assim, brigávamos muito, claro, mas sempre nos uníamos contra qualquer coisa ou pessoa que pudesse minimamente “arranhar” aquela relação, cheia de conflitos, mas onde aprendemos a dividir, a trocar, a abrir mão das coisas, a contar com alguém, a estabelecer certos limites, a compartilhar segredos (nem tão secretos, pois em meia hora não havia mais segredo nenhum que resistisse...) e também, como um micro-cosmo do mundo, aprendemos a lidar com a inveja, o ciúme, o ódio, o “puxar o tapete” do outro, a competição, a cair, engolir as lágrimas e a levantar...

Meus pais eram iguais aos milhões de pais daquela geração, meu pai era o provedor, quem detinha o poder e dava a última palavra em tudo, também era o primeiro a se servir à mesa, o melhor bife era o dele, o pedaço mais nobre do frango, o peito, idem... então brigávamos sempre pelo resto do frango, minha mãe ficava com o pescoço e costumava dizer que “adorava pescoço”. Levamos anos pra descobrir que ela jamais gostou do pescoço!!!

Minha mãe, dona de casa, organizava a bagunça junto com 2 empregadas que faziam o trabalho de casa, que ela detestava, e mantinha as rédeas curtas sobre a “moral e bons costumes”. Não podíamos usar biquíni, nem saia curta e tínhamos de estar em casa antes de escurecer, pois “seu pai não gosta que vcs cheguem tarde em casa” !!! Hoje sei que a maioria das regras era ela quem determinava e na verdade, usando de sua prerrogativa feminina, manipulava a todos, inclusive meu pai.

Mas funcionava. Hoje somos todos adultos na faixa dos 45/55 anos, casamos, descasamos, tivemos filhos, netos, trabalhamos, nos aposentamos, enfim, vivemos nossa vidinha, “neuroticamente normal” e sei que somos o que eles nos fizeram ser... Haviam papéis definidos, quem mandava em quê, quando, onde e como. Tínhamos hora pra dormir, para acordar, pra fazer dever, pra brincar e ver TV, quando assuntos de adultos eram tratados, tínhamos de sair da sala, sabíamos como nos comportar, só com um olhar severo da minha mãe... Meus pais iam ao cinema uma vez ou outra e até hoje me lembro que nesses dias minha mãe colocava perfume e batom e nessa ocasião, meu pai olhava para ela com os olhos brilhando. ..

Tínhamos os queridinhos e queridinhas e sofremos muito com isso pois, obviamente todos queríamos ser queridinhos(as), também tínhamos os detestáveis rótulos familiares: o inteligente, o bonito, o feio, o meio burrinho, mas esforçado, o que não fede nem cheira, etc. E brigas, muitas brigas !!! Braços e pernas quebrados, galos na cabeça e muitos, mas muitos pontos, aqui e ali, sempre tinha um machucado ou quebrado.

E hoje, adultos e com nossos filhos em volta, lembramos de tantas histórias, tantos “causos”, que para serem contados precisávamos estar todos juntos, pois cada um lembrava uma parte da mesma história. Rimos muito mas também tivemos muitos momentos de olhos marejados, voz embargada, choros contidos, por lembrarmos das perdas de nossos pais e de nossa irmã mais velha. E vi que continuamos sendo uma família, apesar das perdas. Parecia que eles continuavam lá, parecia que não faltava ninguém, e de certa forma, estavam, pois através de nós, de nossa história, de nosso passado, eles continuam vivos, ali, um pedacinho em cada um de nós...

Espero que todos tenham tido um feliz dia das mães, da melhor forma possível, ou como filhos ou como mães ou como pessoas que estão no mundo fazendo às vezes de mãe de alguém...


Bjs
Gisele