
Estudei um pouco de genética na escola e ninguém falava disso (claro, eram outros tempos, e falar disso era totalmente impensável...) e mais recentemente na faculdade, quando estudei um pouco mais de genética, inclusive com vários trabalhos sobre síndromes e possíveis problemas genéticos, também nada foi falado.
Durante esta semana, acabei vendo um filme e um seriado que tratavam desse assunto e fiquei super interessada... Dei uma pesquisada básica no “meu amigo Google” e descobri que existe 1 indivíduo hermafrodita para cada 25 mil nascidos!!! É um número consideravelmente alto... Não se tem certeza das causas, mas se sabe que é um problema causado por anomalias cromossômicas, variam de indivíduo para indivíduo e existem vários tipos de hermafroditismo, com tendências tanto para o lado masculino quanto para o lado feminino. O mais intrigante é que quando a criança nasce, não há como se determinar de que sexo ela é, pois em alguns casos, além de existirem os dois sexos externos, os órgãos internos são parte masculinos e parte femininos e um exame genético também não esclarece o sexo do bebê.
Enfim, o bebê nasce e surge a dúvida cruel, mortal, como criar esse bebê? Como uma menina ou como um menino? Fico imaginando a angústia desses pais que precisam tomar uma decisão que afetará profundamente o futuro de seu filho(a). Já é difícil lidar com todas as questões emocionais que envolvem a decisão de se ter um filho, que passam pela gravidez, pelo parto, pelo nascimento, pelo futuro do bebê, e ainda se defrontar com essa questão completamente nova, pouco falada/divulgada, muito complexa, que mexe com todos os conceitos minimamente resolvidos sobre as questões sexuais, sobre papéis femininos e masculinos, sobre as opções sexuais futuras...
A solução, se é que se pode chamar isso de “solução”, é cirúrgica, onde se adequará a parte genital da criança ao gênero escolhido pelos pais... O que deve ser uma decisão dificílima, pois além da parte psicológica, social, moral ou religiosa, a parte fisiológica exige uma série de intervenções cirúrgicas, internações em hospitais, cicatrizes físicas e emocionais sem fim...
Outra “solução” possível é não se fazer nada, esperar a criança chegar à puberdade e ela própria escolher o sexo que quer ter, o que fatalmente ocasionará uma criança meio “híbrida” ou andrógina, até que chegue a hora da escolha e se tomem as medidas necessárias com relação à parte física, com administração de hormônios e a adequação do órgão ao sexo escolhido...
Na realidade quaisquer que sejam as soluções, implicam em muito sofrimento para todos, até porquê se o sexo é determinado pelo biológico, não tem saída, e se o sexo é determinado pelo psicológico, também não tem saída!!!
Então, o que fazer? Determinar o sexo do bebê no nascimento, intervir fisicamente e criar de acordo com essa “escolha” ou deixar o adolescente “escolher” por si próprio e depois tomar as medidas necessárias à adequação?
Seria fácil se a sexualidade do sujeito dependesse exclusivamente de fatores puramente biológicos ou se fosse determinada só pela forma “manualizada” de se criar filhos: meninos são assim (brincam de bola) e meninas são assado (brincam de bonecas). O problema está em que pra além do biológico, a sexualidade e a escolha de um objeto amoroso, depende do quanto de investimento afetivo se faz no bebê, na relação com a mãe, na relação entre os pais, na relação dos pais com os filhos, nas identificações que a própria criança produz, na passagem pelo Édipo, pelo narcisismo, etc...
Ficam aí as perguntas, quem se habilita ???
Bjs
Gisele