quinta-feira, 13 de agosto de 2009

VERMELHO COMO O CÉU.



A vida, o mundo não são justos! E ainda bem! Senão a gente não poderia contar com as forças e os caminhos que nos levam a superar as tragédias e os riscos inevitáveis, que vem junto com o “kit-vida”...

A vida também não tem lógica! Pelo menos não a pobre lógica da nossa consciência, muito limitada, coitada, para dar conta da imensa complexidade das forças que nos movem...

E porque não tem lógica e não é justa, mas é absurdamente forte, a vida encontra sempre um jeito de prevalecer, apesar dos nossos sofrimentos e da nossa implacável ignorância... E esta prevalência da vida não implica, é claro, em termos que seguir, ou estarmos submetidos, a um caminho em linha reta, linear... Não, a vida faz rodeios, dá saltos, encontra saídas que independem de nossa estreiteza consciente...

O filme “Vermelho como o céu” (como outros que sabem falar sobre a vida) é um exemplo muito lindo das complexas forças que regem nossos destinos. Uma tragédia acontecida a um menino de apenas 10 anos, é o motor do verdadeiro renascimento de Mirco e de todos aqueles que estão a seu redor.

Baseado em fatos* , a história de Mirco é a prova e o testemunho de que cada um de nós traz em si a marca da revolução, a capacidade de atravessar barreiras sociais, morais, educacionais, temporais. O que nos faz portadores de uma capacidade de fundar o novo, de transgredir o que é tido como “certo” e “errado”... Abrindo novas possibilidades para todos. Para todos aqueles que respeitam a vida acima de tudo, sem se prenderem ao que nossa medíocre consciência é capaz de reconhecer como “normal”...

“Vermelho como o céu” é uma obra de arte. Como a vida, é um filme que atravessa os tempos, que supera os fatos para fundar novas dimensões, novas formas de fazer valer esse verdadeiro milagre chamado superação.

Mas, para isso, é preciso que fique claro, é preciso olhos para ver e ouvidos para escutar (o que independe de termos visão, audição fisiologicamente perfeitas). É o que faz o professor de Mirco que, antes de ser professor, é gente, está vivo no sentido de estar em pleno contato com a força da vida e de não ser, apenas, um “cagador de regras” – ele não deixou secar em si a sua própria capacidade transgressora.
Mirco não teria chegado onde chegou, nem teria levado tantos com ele, não fosse o olhar e a escuta desse professor. Tanto para ele, quanto para Mirco, o céu pode ser vermelho. E, por que não?

Evelin Pestana


*Em Psicanálise não importa muito essa distinção entre ficção e realidade. A ficção é a nossa realidade e mesmo quando os fatos são "reais", o que importa é como o sujeito vivenciou ou fez a experiência desse fato.

Um comentário:

  1. Ep,

    É sim, Mirco, como tantos outros (do filme e que encontramos pela vida), teve fome de vida, de viver, mesmo que fosse de um jeito diferente do que havia experimentado até então. Mirco soube (talvez mesmo sem saber) pegar o seu "kit-vida" - amei isso, e mais tarde o "kit-vida" auxiliar-externo do professor e transformar sua história e a de quem topou abrir seus kits tb, em vidas tão ricas, tão cheias de sentidos, de sensibilidade, de sonhos, de amor.
    Pena nem todos conseguirem acessar tal kit, talvez porque como nunca usaram nem sabem que tem, ou porque não se sentem merecedores de que a "vida" lhes possa sorrir novamente, ou porque acham que já gastaram todos os suprimentos, ou porque são tão amargurados, severos e trites que não querem, preferem a 'malvadeza' das 'malvadezas'...se lançar com uma bola de mil toneladas atrelada ao tornozelo na pequenez de suas entranhas, como o diretor afastado da escola.
    Filme brilhante que além de me fazer chorar que nem criança, me fez ver como o ser humano pode ser capaz de seguir, seguir, seguir, do jeito que vc falou; às vezes subindo, às vezes descendo, rasgando nas curvas, ralando nas pirambeiras, mas seguindo, buscando. Vivendo.
    bjs
    ap

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