segunda-feira, 11 de maio de 2009

Dia das mães...

Sei que é uma data que surgiu da necessidade de se incrementar o comércio, como o dia dos pais, das crianças, dos namorados, agora tem até o dia da avó, da sogra, do amigo... Mas, como esse dia se comemora há muito mais tempo, acabou ficando marcado no imaginário de todos nós e queiramos ou não, “entramos nele” de algum jeito, bem ou mal, triste ou feliz, sozinhos ou com mães e filhos.
Fui com meus filhos almoçar na casa da minha irmã, que após anos sozinha, agora tem sua filha e netos morando com ela, o que foi uma bela oportunidade de reunir o resto da família, que eu não via há tempos, embora moremos na mesma cidade, sou a irmã "desgarrada". E meus irmãos moram todos no mesmo lugar, uma casa em baixo, uma casa em cima e uma casa atrás, o que gera conflitos enormes, pois são um “condomínio” sem regras e limites claros, o que me enlouquece só de imaginar em compartilhar esse espaço comum com todos eles e mais sobrinhos e agregados.

Somos uma família grande, éramos 5 irmãos, em “escadinha” como era comum nas famílias de antigamente, com avós morando junto e a casa sempre cheia de amigos e parentes, até porque somos de SP e a família vinha sempre se hospedar aqui no Rio. Nossa ascendência é italiana e falávamos todos ao mesmo tempo, muito alto, mexendo muito com as mãos e de longe, parecia que estávamos sempre brigando... mas não era assim, brigávamos muito, claro, mas sempre nos uníamos contra qualquer coisa ou pessoa que pudesse minimamente “arranhar” aquela relação, cheia de conflitos, mas onde aprendemos a dividir, a trocar, a abrir mão das coisas, a contar com alguém, a estabelecer certos limites, a compartilhar segredos (nem tão secretos, pois em meia hora não havia mais segredo nenhum que resistisse...) e também, como um micro-cosmo do mundo, aprendemos a lidar com a inveja, o ciúme, o ódio, o “puxar o tapete” do outro, a competição, a cair, engolir as lágrimas e a levantar...

Meus pais eram iguais aos milhões de pais daquela geração, meu pai era o provedor, quem detinha o poder e dava a última palavra em tudo, também era o primeiro a se servir à mesa, o melhor bife era o dele, o pedaço mais nobre do frango, o peito, idem... então brigávamos sempre pelo resto do frango, minha mãe ficava com o pescoço e costumava dizer que “adorava pescoço”. Levamos anos pra descobrir que ela jamais gostou do pescoço!!!

Minha mãe, dona de casa, organizava a bagunça junto com 2 empregadas que faziam o trabalho de casa, que ela detestava, e mantinha as rédeas curtas sobre a “moral e bons costumes”. Não podíamos usar biquíni, nem saia curta e tínhamos de estar em casa antes de escurecer, pois “seu pai não gosta que vcs cheguem tarde em casa” !!! Hoje sei que a maioria das regras era ela quem determinava e na verdade, usando de sua prerrogativa feminina, manipulava a todos, inclusive meu pai.

Mas funcionava. Hoje somos todos adultos na faixa dos 45/55 anos, casamos, descasamos, tivemos filhos, netos, trabalhamos, nos aposentamos, enfim, vivemos nossa vidinha, “neuroticamente normal” e sei que somos o que eles nos fizeram ser... Haviam papéis definidos, quem mandava em quê, quando, onde e como. Tínhamos hora pra dormir, para acordar, pra fazer dever, pra brincar e ver TV, quando assuntos de adultos eram tratados, tínhamos de sair da sala, sabíamos como nos comportar, só com um olhar severo da minha mãe... Meus pais iam ao cinema uma vez ou outra e até hoje me lembro que nesses dias minha mãe colocava perfume e batom e nessa ocasião, meu pai olhava para ela com os olhos brilhando. ..

Tínhamos os queridinhos e queridinhas e sofremos muito com isso pois, obviamente todos queríamos ser queridinhos(as), também tínhamos os detestáveis rótulos familiares: o inteligente, o bonito, o feio, o meio burrinho, mas esforçado, o que não fede nem cheira, etc. E brigas, muitas brigas !!! Braços e pernas quebrados, galos na cabeça e muitos, mas muitos pontos, aqui e ali, sempre tinha um machucado ou quebrado.

E hoje, adultos e com nossos filhos em volta, lembramos de tantas histórias, tantos “causos”, que para serem contados precisávamos estar todos juntos, pois cada um lembrava uma parte da mesma história. Rimos muito mas também tivemos muitos momentos de olhos marejados, voz embargada, choros contidos, por lembrarmos das perdas de nossos pais e de nossa irmã mais velha. E vi que continuamos sendo uma família, apesar das perdas. Parecia que eles continuavam lá, parecia que não faltava ninguém, e de certa forma, estavam, pois através de nós, de nossa história, de nosso passado, eles continuam vivos, ali, um pedacinho em cada um de nós...

Espero que todos tenham tido um feliz dia das mães, da melhor forma possível, ou como filhos ou como mães ou como pessoas que estão no mundo fazendo às vezes de mãe de alguém...


Bjs
Gisele

6 comentários:

  1. Querida Gi. Poucas pessoas conseguem narrar uma familia, e sem se excluirem, como vc o fêz: na realidade do dia a dia, com amores e raivas, com saudades e conflitos. Dá para sentir que vc realmente tem uma familia - mesmo que alguns já tenham partido, eles permanecem bem - e da melhor forma! - encarnados em vc. Que a vida coloque muitas pessoas em seu caminho, pois vc tem muito a compartilhar!! Que orgulhor, amiga!! Bjao
    EP

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  2. Gisele13.5.09

    EP,
    Eu é que tenho orgulho de ter vc como amiga, professora e mentora, ainda mais com os elogios, nossa !!!
    Bjs

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  3. Vânia Benvolf13.5.09

    Gisa, Nossa... gostei muito, muito mesmo. Me lembrei da minha mãe comendo o pescoço da galinha... Muito bom. Obrigada por mais esse encontro feliz com o seu, o meu passado. Beijos

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  4. Anônimo14.5.09

    Não sei porque o comentário que postei ontem não estão aqui... Enfim, Gisa era mais ou menos assim:
    Adorei o seu texto, as suas lembranças. Lembrei da mamãe comendo o pescoço da galinha...rsrsrs Bjs Vânia

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  5. Gisele15.5.09

    Vania, será que elas gostavam mesmo do pescoço??? ARGH !!!
    Bjs
    Gisele

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  6. Vânia Benvolf17.5.09

    Gisele, Comentei com uma amiga sobre isso e ela me contou que o marido dela adora pé e pescoço de galinha com cerveja.... Rimos muito e a conclusão que chego é que nunca saberemos a verdade já que elas já se foram. Em todo o caso foi ótimo lembrar disso junto com você. E por falar em mãe convido e você e suas amigas para mais uma crônica que, modestamente, acho muito gostosa de ler, mas para vocês, especificamente, um prato cheio para debates de reflexões rsrsrs

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