domingo, 12 de abril de 2009

O QUE É UMA MÃE? PARTE 2

Bom, em função do tema que decidi vasculhar em minha monografia, que trata do imbróglio: desejo de engravidar x desejo de maternidade, talvez me estenda um pouco mais do que gostaria, mas vou tentar não me repetir.

Infelizmente, essa pendenga (gravidez x maternidade), ainda hoje - século XXI - é motivo de assombros, mas não de questionamentos; talvez poucos, mas não em número suficiente a ponto de este tipo de situação relatada, ainda nos deixar indignados e dizer: Pra que essa moça resolveu ser mãe? será que ela não queria "apenas" engravidar e curtir um corpo diferente ou aproveitar uma nova postura no mundo? deixar de fumar, quem sabe?

Seja como for, a proposta de minha monografia é questionar mais, aumentar o volume de questões ainda camufladas, veladas e reverberar uma pergunta que um pediatra (não sei se posso colocar o nome dele...será que serei processada? - se eu puder, boto o nome dele depois) coloca em um de seus livros: "Todos os adultos têm condições de se tornar pais?".

Formulações como essa andam salpicando aqui e ali pelos pontos do globo, mas ainda é muito pouco para tentar responder à pergunta: O que é uma mãe? Será que antes, não devemos nos perguntar: Que tipo de relação é essa entre uma mulher e um bebê?

Ah, mas aí vem a igreja, vem a própria sociedade (coitada) e sei lá mais quem e abafam a pergunta, provavelmente aos berros, com o seguinte comentário: Mas que pergunta é essa? Essa mulher é a mãe do bebê? Então, é claro que é uma relação de amor!!! Ok, adoraria acreditar nisso, mas infelizmente não sou capaz; não depois de “encarar” alguns teóricos da psicologia, da psicanálise, como Freud, Winnicott, Lacan, Nasio, e muitos outros,... e talvez, estejamos precisando, no momento, como participantes de um mesmo planeta, vizinhos, chefes, empregados, enfim, pessoas que, através de suas histórias, estão no mundo; nos debruçar sobre a “natureza” do laço que une uma mãe e seu filho.

Incrível como essas perguntas se apresentam de uma forma tão simples, né? beiram a ingenuidade. Ingenuidade, porque somos levados, de alguma forma, a acreditar que todos somos capazes de nos reproduzir. Somos mesmo? Todos? Tenho minhas dúvidas, e acho que o que falta há humanidade, de um modo geral, é, humildemente, entender que não.
Mais chocante que as perguntas e as tentativas em respondê-las, é a forma como nós ainda lidamos com nossas mazelas nessa seara. Será que não seria mais "humano" aquiescermos a esse fato do que nos depararmos com situações horripilantes que se tornam manchetes de jornal ou mesmo cenas "banais" que fazem parte do dia a dia de qq mortal? É só sermos minimamente corajosos e olharmos para não muito longe e passarmos a nos questionar, porque nós, a humanidade (burra, tadinha, desamparada e vítima) ainda não entendeu, e talvez nem entenda nunca, que essa função (a função materna) é atravessada por histórias precedentes (ou a falta delas), e que envolve muito mais que a "maldita natureza maternal" ou "instinto maternal" - ainda cultuada e exigida, que coloca a mulher, desde qdo nasce, como que portadora de um gene ou de uma calibragem em seu DNA capaz de dar conta, no futuro, de algo que, via sociedade, se faz imperativo...se tornar mãe!

Tal qual a pergunta: "O que quer uma mulher?", "O que é uma mãe?", nos instiga, mas, diferentemente do que se pensa ainda hoje, ou seja, que a pergunta de uma é a resposta da outra, a constituição do ser humano, complexa que é, não nos permite tamanha falácia e tão pueril engano.

Pena a humanidade ainda não ter conseguido se aproximar da realidade, mesmo diante de infelizes fatos corriqueiros como nossas manchetes de jornal e idas à farmácia, ao supermercado, ao clube, ao parquinho, .....
(para maiores informações, vide minha monografia, já já disponível no boca).

AP
12.4.09

4 comentários:

  1. Gisele12.4.09

    Dá-lhe AP !!! Belissio texto...
    Extremamente pertinente aos dias de hoje, onde ainda imperam as cobranças para se ser mãe...
    Será que desejo realmente ser mãe? Será que sou capaz? Será que tenho esse "amor maternal" dentro de mim? Enfim, será que conseguirei construir essa relação?
    Temos de ter a liberdade de escolher, sem acusações, cobranças e culpas...
    Bjs

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  2. Um dia, quando filhotão ainda era filhotinho, me peguei falando o texto mais desencolatrado que uma mãe de um bebezinho pequenininho poderia dizer. Estava dizendo ao pai do bebê que o bebê não gostava de mim.

    Ora, dirão, mulher louca! O bebê ainda é bebê, nem gosta nem desgosta, nem falar fala.

    Mas a gente de vez em quando, no meio da mamada, olha pra aquele serzinho minúsculo, mas com olhos que nos vêem o mais ínfimo dos cravos e espinhas e pode pensar: "caraca, este manezinho não gosta de mim, me acha feia, no mínimo" e dane de entrar em crise.

    Porque a minha crise foi garantida. Era impensável, e principalmente, impronunciável, que o filhote bebê não gostasse de mim. Digamos que por umas duas ou três horas eu enlouqueci.

    Sério. Pirei.

    E só graças ao pai da criança voltei ao normal. Ele foi me mostrando que aquelas coisas que eu estava pensando antes de mais nada não eram um crime (eu me sentia muito criminosa, digna de aprisionamento rápido), segundo tampouco eram assim tão sem pé nem cabeça.

    Ora, disse ele, até eu de vez em quando não gosto de mim mesmo, ou de você ou de quem quer que seja. Por que o bebê também não pode ter seus dias de "puxa, que feia é mamãe"???

    No geral, eu achava que meu bebê me amava e me achava linda porque era assim que me parecia. Mas naquele dia, ou mais lúcida ou mais louca que o normal, eis que todas estas certezas foram pro espaço. E sem alguém do meu lado que me aceitasse, que me dissesse que aquilo era normalérrimo, eu teria pirado de vez.

    Fico imaginando quanta gente talvez pire num momento desses, em que a gente está cheio de perguntas, hormônios e confusões aos montes. Sem alguém que nos olhe, nos veja, nos compreenda e, principalmente, nos aceite, podemos nos tornar realmente doidos de vez e, pior ainda, endoidecer nossos filhos.

    Há de chegar o dia que nenhuma mãe, nenhum filho, nenhum pai ficará isolado e tão fragilizado. E todos serão filhos de todos e todos serão cuidados por todos...Aí a loucura, bem, esta sempre existirá, por certo- mas ao menos será muito mais restrita a situações incontornáveis e insolucionáveis...

    Lindo texto APzinha...

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  3. Meninas Queridas!!!!

    Que bacana que vcs gostaram do texto!
    Gi e Cyber Cy, seus textos estão (e são) um arraso!
    Bjs
    AP

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  4. AP, como sempre, mandou muitissimo bem!

    Que texto corajoso, verdadeiro, questionador de verdades ancestrais e dogmáticas, que obrigam muitas pessoas, menos ligadas, ou menos informadas, a seguir feito gado em uma só direção - a do abate do sujeito via relações parentais.

    Vez ou outra faço a mim mesma a pergunta que o pediatra referido no texto fez de forma muito pertinente: "Todos os adultos têm condições de se tornar pais?". Essa pergunta é de uma importância enorme, assim como o belo texto e a mono que está no prelo.

    Esses escritos de AP jogam um bocado de luz sobre essa delicada e perigosa relação, que é sempre retratada como instintual, desejada, perfeita, necessária e consequência natural da relação entre homem e mulher que decidem unir suas vidas. Bastou juntar as escovas de dentes e os amigos, parentes e aderentes começam a cobrar quando virá o bebê. É batata! E a cobrança vai até que nasce o(a) promogênito(a) e a galera continua na torcida, babando, perguntando quando vem o(a) próximo(a). E assim vai seguindo a linha de produção e os pobres coitados dos pais sem saber direito como lidar com a nova pessoa que chega, e a criança sem entender nada do que está acontecendo. Mas está garantido o núcleo familiar! E tudo com direito a fotos para a posteridade, ainda na sala de parto, com a mãe com aquela cara de Madona de Rafael, com a touca cirúrgica saindo da cabeça enquanto sorri feliz e inocente ao lado do pai, viril e sorridente, mostrando o fálico polegar para cima. E aí foram felizes para sempre...

    ESPÉÉÉRA!!! Sempre tive uma certa desconfiança dessa frase de encerramento de contos de fadas. Quando todo mundo pensa que está tudo pronto, resolvido e acabado, aí é que começa a verdadeira história. Aquela que irá determinar o tipo de família que se formará ao longo do tempo.

    Como tenho esperança que todo ser humano guarda em si uma centelha de sabedoria e lucidez, acredito que, no mais das vezes, graças a essas virtudes humanas, aliadas ao interesse,(quando há), sobre as relações humanas e o desejo de fazer a coisa dar certo, são formadas famílias que serão felizes e cumprirão seus destinos da melhor forma que puderem, enquanto tiverem sucesso em manter suas subjetividades bem definidas e afinadas no dia a dia.

    Difícil? Certamente que é difícil! Mas é justamente sobre isso, creio, que fala AP. As coisas não são tão simples assim, tipo, "resolvemos, (ou resolvi), ter um bebê" e está tudo certo.

    É preciso ter coragem de enfrentar milênios de tradição para se chegar a essa importante conclusão: como tudo na vida, maternidade é escolha e como escolha, deve ser responsável. O processo parental não tem "test drive", nem manual de instruções, nem cláusula de reversibilidade e nem fiador.

    A maternidade, certamente, não é determinada a priori na mulher. Pelo menos não na mulher que decide se libertar dos grilhões do determinismo cultural e se torna mãe de verdade, quando vem esse desejo. Mãe que é ao mesmo tempo árvore e fruto, mãe e filho(a), numa dialética onde prevalece o respeito e o cuidado de um(a) para com o(a) outro(a). E essa mulher se torna "Matersapiens"(?!) e passa a pensar, a comunicar seus pensamentos e a escrever poemas, textos, blogs, teses e monografias...

    Parabéns, AP!!!

    Muitos beijos,

    Tomb Raider

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