sexta-feira, 10 de abril de 2009

O QUE É UMA MÃE?

Vários textos (sobretudo os de Psicanálise) já se propuseram a discorrer sobre as possíveis respostas à pergunta acima – uma pergunta que, creio, só pode ser respondida no particular de cada um, e com inúmeras ressalvas, pontos de exclamação, contradições, indefinições. De minha parte, acho que estamos diante de uma pergunta que não pode ser respondida com explicações, regras, definições exatas... Não há resposta definitiva para essa pergunta. Ela não se deixa responder... E, por isso mesmo, ela não cessa de ser feita. Quem é mãe, e quem tem mãe (quem não tem?!), sabe que mãe é uma “coisa” que, dificilmente, deixa a gente em paz... A simples menção da palavra mãe, falada ou ouvida, desperta os mais intensos sentimentos, bons ou ruins, em sua maioria jamais simples; pelo contrário, muito contraditórios!

Na fila do caixa de uma drogaria, eu esperava minha vez de pagar. À minha frente, uma mulher jovem ia dando para o rapaz do caixa os produtos que queria levar. Ao lado dela, um homem, também jovem, e um menino de uns 4 anos. A principio, não consegui identificar que ali estava uma família. Não era visível nenhum laço afetuoso entre aquelas pessoas. Foi então que o menino, magrinho, meio curvado, me chamou a atenção pela alegria com que dizia: “Pai, posso pegar um MM?”. O tal chocolate estava na prateleira, bem à altura do pequenino que, para meu espanto, não estendera a mão para pegar o MM e, só depois, então, fazer o pedido. “Criança educada!”, pensei, não sem uma certa estranheza que ainda não podia explicar para mim mesma. O pai consente, o menino pega o MM. A mãe tira o MM das mãos do menino (um tanto bruscamente, sem palavras, quero dizer) para passar o produto no caixa e não devolve-lo ao menino, que começa a demonstrar uma reação de quase pânico; com esforço, ainda não chorando, ele diz: “Mãe, me dá meu MM!”.

Resposta da Mãe: “Não. Você vai tomar vacina daqui a pouco e não pode comer chocolate (!). E vai almoçar, também!” O garoto cai em prantos, muito, muito infeliz. O mundo tinha desabado para ele... A “resposta” da mãe: “Então, se é assim, eu vou deixar o MM aqui e não vou levar!”. E pede ao caixa para tirar o chocolate da conta.

O pai (aquele mesmo que havia “dado” o MM: “Você fica de marra, é isso que dá!”

O menino pára de chorar (“engole o choro”). Noto que a curvatura de suas costas aumenta um pouco. Os três saem da farmácia. De costas, percebo que tanto o pai quanto o filho tem o mesmo caminhar: curvados. O menino parara de chorar, e saira sem o MM.

Não houve espaço para negociações, trocas, palavras... amorosidade. Só o império das regras (do tipo leite com manga faz mal, não se pode lavar a cabeça menstruada, quem brinca com fogo faz xixi na cama, quem vai tomar vacina não pode comer chocolate... etc, etc).

Nós podemos não ter uma resposta definitiva para a pergunta que dá titulo a este pequeno relato. Entretanto, que não possamos respondê-la, isso não nos impede que essa mesma pergunta ressoe e se deixe responder a cada vez, em cada situação que a vida nos apresenta, a partir de referências concretas à realidade e, sobretudo, com uma boa dose de amor.

Ao falar sobre a relação entre uma mãe e seu filho, Freud chegou a dizer que “uma mãe ensina seu filho a amar”. Talvez esta seja a resposta mais simples – e a melhor – para a pergunta que não quer calar... Na impossibilidade de amor, lembra Freud em outro texto, adoecemos... a nós mesmos e a nossos filhos.

EP

4 comentários:

  1. Uma amiga muito querida leu este texto e me fez indagaçoes muito importantes: "como é que se ensina a amar? educar é fácil, mas amar é mais dificil!" Ousando responder de forma simples, eu diria: nao podemos confundir a capacidade de amar - que é o efeito imediato de sermos ou termos sido amados por algum outro, quando chegamos a este mundo - com "amar do jeito certo ou errado...". Amar já é para poucos! Amar certo ou errado, só vivendo, se deixando lapidar...E educar, ilusão necessária de quem ama, é uma tarefa infindável... É por isso que tem gente que nao faz nem uma coisa, nem outra. (aliás, uma nao anda sem a outra...). E o "ensinar a amar" do qual fala Freud, nao passa por ditar regras... Rs...rs.. Alguém disse que viver era fácil? Que bastava seguir manuais? Nao é. Mas é muito bom!
    EP

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  2. Gisele11.4.09

    Como vc bem disse, no amor que dedicamos aos filhos, não existe certo nem errado, amar é só (só?) amar mesmo, da forma que se pode, se consegue ou é possível...
    Me parece que o fundamental é estar realmente disponível para, ver, ouvir, acolher e tentar dar algum sentido à essa relação particular, que vai se construindo muito antes deles nascerem e que nunca termina...
    Bjs
    Gisele

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  3. No caso esta mãe ensinou ao filho a que não adianta conversar sobre o que deseja- porque ao não abrir a possibilidade de comprar o MMs mesmo com o argumentar da criança (e do pai da criança)- ela ensinou que não adianta conversar. Quando mais tarde o menino virar adolescente e não quiser saber de conversa, será parte das milhares de mães que reclamam dos adolescentes e sua incapacidade ao diálogo. Ora, pra quê diálogo com quem é dono da verdade, não é mesmo?!

    Adorei o blog e proponho que nós nos auto-adicionemos. Parabéns pelas letras luminosas...

    O meu é http://lucidolimpidoproparoxitono.blogspot.com/

    Pintem lá e se divirtam
    beijos

    Cynthia Dorneles

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  4. Vânia Benvolf14.4.09

    Quantas foram as vezes que vi cenas semelhantes. É tão comum vermos mães dando o veredito sobre o que é bom ou não para um filho. Eu pergunto: não seria uma impertinência inferir sobre a atitude dessa mãe? Vitimar a criança e o pai porque estão com as costas curvadas parece mais uma fantasia psicológica do que uma análise real dos fatos. Eu poderia dizer que vi um pai ausente e vendido querendo fazer a vontade de uma criança que sofre de alguma doença cujo chocolate pode interferir na eficácia da vacina. O pai pode ter essa figura desgastada pelo peso da doença do filho. A mãe, forte, tenta proteger a prole de todo o mal do mundo - o que é, obviamente impossível e talvez as torne alvo de crítica mesmo quando intenciona somente amar. A versão sempre pode ser literária...rsrs Gostei muito do blog. Parabéns!

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